quinta-feira, 16 de maio de 2013

O brasileiro

Paira uma carência no povo brasileiro, que é a carência da vontade, do indivíduo, do vigor e da serenidade reflexiva. O semblante desse povo é quase que todo vulgar, homogêneo, fazendo-nos confundir qualquer um com algum outro, essencialmente; não nos deixando enxergar nada além de uma visão ordinária de um ser que não almeja coisa alguma, além de um prazer momentâneo.
Não é que não se possa ser ignorante e baixo: pode-se sê-lo, sem dúvida! O mundo, a natureza, não clama para que se seja altivo, decisivo e reflexivo, absolutamente. Não há uma demanda natural para que se seja nada nessa vida, entretanto, ainda assim, as pessoas de índole mais baixa e vulgaridade mais avantajada cismam em meter o bedelho em tudo e dar suas opiniões sobre assuntos para os quais não devotaram cinco minutos de reflexão. Tal despudor, despreparo e desprezo para com o mínimo que o bom senso exige, vê-se na cara do brasileiro, cujas características já foram citadas mais no início do texto, e enoja a qualquer um que procure realizar o exercício de se deslocar para fora e observar tal como corre a nossa sociedade e os seus dementes. Tal observação também nos leva, naturalmente e necessariamente, a uma questão que de tão notória é negligenciada: a da indignidade do povo brasileiro em seus extremos. Esse povo não consegue ser pobre, tem de ser miserável. Não consegue ser ambicioso, tem de ser mesquinho. Não consegue ser mal-informado, tem de ser ignorante. Não consegue ter poucos modos, é grosseiro e, obviamente, não consegue calar-se, bastar-se, tendo de ser metido e extremamente vergonhoso em suas intransigentes burrices.
O brasileiro é o povo mais incapaz da face da terra. Na realidade, não é nem “povo”, é um amontoado de seres que conseguem se misturar pela total carência de índole e de todas as condições elevadas e substanciais que constituem um homem com H maiúsculo.
Não obstante, um pequeno texto para criticar esses seres tem o mesmo efeito que um discurso que é ofuscado, sempre, por um coro de urros animalescos. Não adianta escrever. Penso que a única didática para essa gente seja a do chicote.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Homens de mente lúcida / El hombre de cabeza clara

"Homem de mente lúcida é aquele que se liberta dessas “idéias” fantasmagóricas e olha de frente a vida, e se convence de que tudo nela é problemático, e se sente perdido. Como isso é a pura verdade – a saber, que viver é sentir-se perdido –, quem o aceita já começou a encontrar-se, já começou a descobrir sua autêntica realidade, já está no firme. Instintivamente, como o náufrago, buscará algo para se agarrar, e esse olhar trágico, peremptório, absolutamente veraz porque se trata de salvar-se, lhe facultará pôr ordem no caos de sua vida. Estas são as únicas idéias verdadeiras; as idéias dos náufragos. O resto é retórica, postura, íntima farsa. Quem não se sente de verdade perdido perde-se inexoravelmente; é dizer, não se encontra jamais, não topa nunca com a própria realidade."

Ortega y Gasset